fbpx
terça-feira , 19 março 2024

Entrevista: Rafael Fadul

Nome: Rafael Fadul
Idade: 23 anos
Origem: São Paulo, SP
Atualmente em: Los Angeles, California

Meu nome é Rafael Fadul e eu sou engenheiro de mixagem, morando em Los Angeles, Califórnia. Eu já trabalhei com artistas como Papa Roach, Dua Lipa, Bebe Rexha, Zara Larsson, Matheus & Kauan, Anitta, Luan Santana, Luisa Sonza, entre outros. Hoje também trabalho com o super produtor Jason Evigan, responsável por compor e produzir hits para artistas como Maroon 5, Jason Derulo, Kelly Clarkson, Demi Lovato, Charlie Puth, David Guetta, Madonna, entre outros.

Como começou na vida musical?

Eu tive meu início na música aos 10 anos de idade quando meus pais me deram meu primeiro violão. Com isso, eu achava que seria músico e queria fazer parte de banda, mas depois de ter que me apresentar ao vivo com a banda do consevatório musical em que estudei, vi que não era pra mim. Vi que eu gostava mesmo era de ficar em um ambiente mais fechado onde me sentia mais confortável, foi quando eu descobri os “estúdios de gravação”.

Então disso surgiu o interesse pelo estúdio ao invés do live?

Exatamente. Eu sabia que eu queria sentar atrás daquela mesa cheia de botões, ne frente de todos aqueles equipamentos.

E como você foi atrás disso?

Eu acabei procurando softwares de gravação e vídeos/tutoriais no YouTube e me deparei com o Logic Pro 8 e nisso eu me apaixonei de vez. Anos depois, após aprender a usar o FL Studio, Garage Band e Logic, eu descobri o Pro Tools. Porém, como estava no colegial e meu colégio era muito exigente, acabei deixado isso tudo de lado para focar nos estudos, mas na verdade sempre sabia que era algo em torno da produção musical que eu queria seguir. Então depois que eu terminei o colegial e passei na Universidade Federal do ABC (UFABC), eu me comprometi a trabalhar no restaurante do meu tio na Zona Norte de São Paulo para tentar juntar um dinheiro para ir fazer um curso em Los Angeles.

Você fez faculdade no Brasil antes de se mudar para Los Angeles? E chegando lá como foi o começo do seu aprendizado?

Eu estudei por 1 ano na UFABC e na primeira semana de janeiro de 2014 eu fui para Los Angeles para estudar na Los Angeles Recording School (LARS). Eu entrei no curso de Recording Arts, que era o curso para quem quer ser engenheiro de áudio. O curso foi incrível e cobriu todas as áreas da engenharia de áudio para música, como gravação, Pro Tools, manutenção de equipamentos, mixagem, introdução a masterização, assim como para pós-produção para cinema e televisão, como efeitos sonoros, mixagem de diálogos e trilhas sonoras.

Foi logo após a sua formação que você entrou no mercado profissional do áudio?

Não, foi durante minha formação. Eu tive que voltar para São Paulo por motivos familiares no começo de 2015. Alguns meses depois fui na AES onde conheci um dos meus ídolos na engenharia de áudio, que acabaria se tornando meu chefe e mentor, Beto Neves.

Então sua carreira começou com Beto Neves como mentor? Que oportunidade você teve, hein!

Pois é! Eu fiquei perseguindo o Beto durante os 3 dias de AES até que ele virou pra mim e disse: “Você é insistente e ficou atrás de mim todos os dias, é trabalho que você quer, é?! Então começaremos amanhã às 9h no Mosh”. Daquele momento em diante, fiquei ao lado do Beto até o final da feira e ele já me apresentava como seu “futuro assistente, caso seja bom”. Naquela hora eu não sabia nem o que falar! Só agradeci e no dia seguinte estava lá no Mosh.

Beto Neves e Rafael Fadul

E como foi esse primeiro dia?

Quando cheguei lá, o Beto já me colocou para trabalhar. Comecei a montar sessões e anotar as configurações dos outboards que ele estava usando na mixagem de um DVD do Jammil e de um disco do Tomate. Na mesma semana, fui com ele ao estúdio do Carlinhos Freitas, a Classic Master. Nisso eu já tinha conhecido dois dos meus ídolos do áudio. Sem falar da enciclopédia humana e figuraça Oswaldo Malagutti Jr., dono do Mosh, uma das pessoas mais cultas e inteligentes que eu já conheci na minha vida.

Então daí pra frente foi uma aventura, não é?

Com certeza! Trabalhei quase 2 anos para o Beto. Dois anos nos quais gravamos dezenas de discos e shows, mixamos centenas de músicas e eventos (também entrei para o time da Mix2Go, unidade móvel do Beto, Daniel Reis e Edu Ayrosa). Discos nos quais 3 tiveram indicações ao Grammy Latino: o “Joined” do Cesar Camargo Mariano”, “Adivinha” do Lucas Lucco e “Melodias do Sertão” da Bruna Viola. Foi uma experiência na qual eu não tenha palavras para explicar o quanto eu aprendi e cresci não só como profissional, mas como pessoa também. Beto Neves é, indiscutivelmente, um dos profissionais mais capacitados da história da música brasileira e, ouso dizer, mundial!!! O cara sabe muito de tudo… é impressionante!

E como você foi parar em Los Angeles de novo?

Então, no final de 2016 um amigo meu em Los Angeles me ofereceu um estágio com um dos engenheiros de mixagem mais famosos do mundo (não posso dizer quem é porque acabou não rolando no final das contas). Eu senti que era a hora de tentar minha sorte no mercado que eu sempre quis fazer parte. Foi quando eu arrumei as malas e me mudei de volta no começo de 2017.

E nisso como você conseguiu entrar nesse mercado?

Eu consegui ser assistente de um dos maiores engenheiros de mixagem da história, o Dave Pensado. Com ele eu aprendi mais do que eu consigo explicar. Ele é uma pessoa incrível com uma habilidade extraordinária de “ensinar sem ensinar”.

Dave Pensado e Rafael Fadul

Como assim “ensinar sem ensinar”?

Pois é! Ele não ensina você a mixar, mas pelo fato dele usar milhares de técnicas de mixagem diferentes em cada música, você acaba absorvendo e decidindo o que você gosta ou não gosta na hora que você faz a sua mix.

É diferente mixar música americana do que mixar música brasileira?

Eu acredito que é sim. Mas não relacionado às técnicas ou equipamentos e plug-ins utilizados, mas sim em relação à tonalidade dos elementos musicais, como as vozes, graves, bateria eletrônica, samples, etc. Como eu mixo mais música pop e “urban” do que qualquer outro gênero, eu acabo tendo que dar uma maior importância aos graves, aos transientes da bateria (geralmente eletrônica), ao volume e presença da voz e PRINCIPALMENTE aos efeitos na voz. Na música comercial brasileira, como o sertanejo, jogadas de delay e reverb, o uso de phasers, flangers e harmonizers não fazem parte do estilo.

Mixando “Ao Vivo E A Cores” do Matheus & Kauan part. Anitta – Lucas Santos (dir.) Rafael Fadul (esq.)

E a pressão é maior por estar no meio de tantos artistas, produtores e compositores famosos?

Eu não sei se é maior, porque a pressão no Brasil é grande também. Mas é diferente. O mundo do pop é bem intenso. O nível de comprometimento de todos os profissionais envolvidos no processo da produção musical é impressionante. O foco, a exigência e a perfeição são enormes, o que faz com que você sempre esteja atento e pronto para qualquer coisa.

Você tem algum conselho para quem quer seguir os mesmos passos e tentar a sorte em outro país, nos EUA por exemplo?

Olha, eu acho que a única coisa que impede qualquer um de alcançar o que quer é a mistura de comprometimento, determinação e conhecimento. A minha geração é tão sortuda de ter tantas plataformas de aprendizado e tanta acessibilidade ao conhecimento que, literalmente, a única coisa impedindo alguém de chegar onde quer é a determinação. Como qualquer outra profissão, falando como engenheiro de mixagem, a prática e vontade de aprender e questionar “por que isso é desse jeito?” ou “será que eu não posso usar isso de um outro jeito para chegar no resultado que eu quero?” são fatores que vão colocar alguém, quem for que seja, na frente de muitos.

Alguma dica de onde aprender mais sobre mixagem e engenharia de áudio?

Sim, vários lugares. Online existem plataformas como canais no YouTube (Pensado’s Place, Produce Like a Pro, Pro Tools Expert, Audio Reporter, etc); existem escolas no Brasil, como o IAV, IATEC, Anhembi Morumbi, Faculdade Belas Artes; e eventos como os workshops no Sonastério, workshops do Cris Simões, Beto Neves, Semanáudio. Só não aprende quem não quer!

Contato: rafaelfadul1@gmail.com / @rafaelfadul no Instagram

Foto: Lucas Marchese

Sobre Diego Moreno

Fundador do site, Engenheiro de áudio, apaixonado por música, divide o tempo entre a estrada o estúdio e a constante atualização do site.

Confira também

microfonar AMP

Microfonar o amplificador ou não?

Porque é importante microfonar o amplificador ao invés de usar simplesmente a saída de linha?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.