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quinta-feira , 28 março 2024

Aviação e Áudio – O que temos em comum?

O que tem essas  duas profissões em comum além de habilidade e dedicação ao trabalho?

Em umas das viagens trabalhando, achei um livro numa SEBO e por gostar do assunto comprei: ” Não faça Voo cego“. Um livro de 1978, mas ensina em linguagem bem leiga princípios da aviação.

Ao chegar no capítulo “decolagem”, percebi que a aviação e o áudio tem uma relação muito interessante principalmente na preparação desse  estágio do voo. Vamos começar pelo piloto.

O Piloto:

O voô para um piloto começa muito antes do embarque dos passageiros.  Os pilotos já estão ali num minucioso trabalho  de preparação. Um funcionário da empresa aérea chamado de “despachante” entrega

Check List do AirBus A320
Check List do AirBus A320

ao comandante dados relativos à decolagem e o plano de voo. Ele leva em consideração vários fatores: direção do vento, velocidade, aclividade da pista, pressão atmosférica, temperatura, etc.

Na cabine, o Comandande e o 1º Oficial começam o extenso check list. Mesmo que já tenham mais de 2 mil horas de voo, inúmeros pousos e decolagens, em todo voo esse processo é repetido rigorosamente e para isso eles tem um Checklist.  O 1º oficial “canta” os itens em cada etapa de voo e o comandante verifica e dá o parecer. Veja na figura ao lado que existem todas as etapas de voo, desde antes de ligar o motor, até  o desligamento da aeronave.

 

O Técnico de Som:

O show para o Técnico de som começa muito antes também. Ele assiste os ensaios, faz o input list, monta um rider com os equipamentos que ele precisa e se ele for muito responsável faz uma cena base pra as consoles que ele pediu no rider.

Assim como num cockpit, pessoas ficam espantadas com o número de botões que temos que mexer, e assim como o piloto no avião , nós sabemos o que cada um deles fazem.

O que temos em comum?

Essa descrição das duas profissões é necessária para explicar o que temos em comum, só que em aspectos diferentes. Operamos um sistema muito caro, lidamos com equipamentos com muitos botões e de tecnologia de ponta, temos que ter o domínio da língua inglesa pra nos aprimorar e ler os manuais, etc…

Mas se tem uma coisa que muitos colegas de trabalho não  fazem, seja no PA, Monitor, empresa de som ou estúdio é o CHECKLIST,  e pra isso temos que ter a disciplina de um piloto, não importa a quantidade de shows que fizemos ou o domínio que temos sobre o equipamento.

Sugestões para um checklist

Eu não tenho um checklist anotado, então sigo um padrão que acostumei a fazer e vou dividir com vocês. Caso tenha alguma sugestão, escreva nos comentários.

Estúdio:

  • Versão do sistema operacional e do Software de gravação ( caso seja um estúdio que eu não trabalhei ainda )
  • Posicionamento dos monitores
  • Controles traseiros dos monitores ativos
  • Caso sejam amplificados, checo o amp pra ver se estão em volumes iguais
  • Check de L e R ( se estão falando iguais )
  • Ergonomia (posição de cadeira, mouse e teclado)
  • Espaço em HD
  • Espaço para backups e HD’s externos.

PA (F.O.H) 

Faço isso como técnico da banda. Mesmo que o técnico da empresa já tenha checado.

  • Ruido rosa em todas as vias checando uma por uma quanto ao volume entre elas
  • Ajustes do processador, ponto de crossover, delay e equalização. Verifico se estão iguais do lado esquerdo e direito
  • Verifico todas as caixas de SUB se estão ligadas e somando
  • Ajuste com ajuda do Smaart, se não houver tempo hábil, um RTA
  • Toco alguma música no sistema, escuto o L depois o R e a soma dos dois
  • Verifico todos os reforços sonoros, Front, Out fill, Center, torre de delay, etc…
  • Posicionamento de todos os microfones e amplificadores de instrumentos
  • Funcionamento da mesa de som (verifico faders vivos) e dos periféricos

Monitor

  • Repito o check do PA no Side fill
  • Verifico todos os monitores de chão
  • Ligo pessoalmente e verifico as conexões entre a console e o rack
  • Posição disposição de antenas e cabos
  • Checagem de sinal nos monitores de chão e nos transmissores do IEM (in ear monitor) com ruido rosa
  • Verifico configurações dos bodypacks
  • Procuro possíveis problemas de RF
  • Condições de pilhas e baterias
  • Posicionamento de microfones

Pode parecer chato e repetitivo realizar todos esses passos em  todo show. Mas assim como pilotos, temos uma responsabilidade grande em nossas mãos. Nosso trabalho influencia diretamente a vida de muitas pessoas, mesmo que por entretenimento, além de colocar em risco muito dinheiro.

Um show  é um momento único, e um simples deslize você passa de anônimo pra o vilão da história. Uma simples negligencia de algum item dessa lista pode por a perder momentos valiosos que estão sendo registrados em vídeo (no caso de um DVD), gravados pra um CD ou sendo transmitidos ao vivo.

Assim como pilotos, não podemos errar.

Pode acontecer? Claro que pode, qualquer ser humano ou equipamento está suscetível a falha, mas ao menos eu me assegurei com meu checklist que isso nunca aconteça.

Você já passou por algum momento em que um checklist salvaria sua vida? Aquela hora que você esqueceu de checar a via do SUB e só percebeu depois do show que ele não funcionava?  Ou aquele início de show que o “patchman” colocou a voz do locutor bem no canal da voz principal durante a troca de palco?

Escreva nos comentários!

Esse post é dedicado a três pessoas que me ensinaram a ser rigorosos no trabalho: André Magalhães, Daniel Reis e Tito Menezes.

Sobre Diego Moreno

Fundador do site, Engenheiro de áudio, apaixonado por música, divide o tempo entre a estrada o estúdio e a constante atualização do site.

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Vou mais uma vez causar polêmica e discussão com este post, pois sei que muita gente que segue o blog faz ou já fez, concorda ou discorda de alguns desses mitos que eu vou comentar agora:

2 comentários

  1. Stuggar Alberto Cazas Rojas

    Muito bom . O que tem as duas profissões em comum interessante, comparto o critério. Parabéns.

  2. Na televisão o check list é feito minuciosamente, é um dos processos mais importantes da nossa operação no dia a dia mas como o texto mesmo diz “qualquer ser humano ou equipamento está sucetível a falha” e no mínimo 80% dessas falhas são corrigidas no check list.

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